CANUTAMA

Com o objetivo de apenas reciclar os meus conhecimentos jurídicos, na década de  sessenta do século passado, submeti-me ao concurso para Promotor Público do Estado do Amazonas, logrando obter  o primeiro lugar, com a maior média já alcançada no Ministério Público. Fui nomeado pelo Governador do Estado do Amazonas, dr. Arthur César Ferreira Reis, para Promotor do Município de Canutama, na região do Purus.

Como não pretendia ingressar no Ministério Público, visto que era Procurador da Antiga Superintendência da Zona Franca de Manaus, viajei até o Município de Canutama apenas para conhecer o lugar.

Canutama não tinha campo de pouso. Viajei, então, num avião anfíbio da VARIG. Depois de algumas horas, o avião amerissou no distante Município do Purus, e, aí, pude constatar a penúria e o abandono em que viviam os chamados  cidadãos hinterlandinos.

Ali, a comida era proveniente da caça de animais silvestres. Como eu não gostava desse tipo de comida, passei muitas privações no Município, posto que o avião passava uma vez por semana e isto não era certo, posto que às vezes não podia pousar, visto que as águas estavam muito revoltas. Aí, mais uma semana de espera.

Entre outras coisas, conheci, no interior do município, uma olaria que me deixou deveras atormentado. Leprosos ali trabalhavam e me faziam lembrar muito dos tempos bíblicos. A impressão era apavorante.

O certo é que aproveitei minha presença no município para conhecer de perto a realidade amazônica, tão bonita em sua diversidade, mas deveras assombrosa e inquietante a um habitante da chamada cidade grande, no caso, Manaus.