REGIONALISMO DEGRADANTE

Branca Amande Cavalcante

Faz alguns anos, ao sair da Igreja de N. S. da Glória, após assistir missa, fiquei contristada e decepcionada com uma cena degradante que presenciei: uma mulher gorda, de aparência desengonçada, dirigiu-se, ao término da missa, ao altar de N. S. Aparecida que fica perto de uma das saídas da Igreja, e recolheu algumas flores que faziam parte de um buquê deixado aos pés da santa e as colocou dentro do soutien. Depois, apanhou o ramo de flores e duas garrafas com água e saiu.

Já na rua, atirou ao chão o ramo de flores com desprezo, fazendo o mesmo com as garrafas, quase atingindo as pessoas que passavam por perto.

Uma senhora, de cabelos bem grisalhos, tocou no ombro da “cidadã” advertindo-a que não devia ter feito aquilo, pois causara admiração a vários frequentadores da Igreja.

Foi o bastante para que a criatura se voltasse como uma fera e dissesse: “não se meta nisso, sua nordestina”. A senhora educadamente respondeu: “não sou nordestina, sou sulista, mas tenho muita admiração pelos nordestinos que são um povo trabalhador, e somente saem de sua região porque são perseguidos pela seca. Olhe, o nordestino tem ajudado a construir São Paulo como tem sido muito útil aqui no Rio de Janeiro, nas diversas profissões que ocupa. Você sim é uma infeliz, cheia de complexos. Ou você é débil mental ou é muito ignorante”.

Daquela cena, passei a tirar minhas conclusões: como existe discriminação no Brasil. Discriminação regional, racial, social, e por aí vai… O problema é que tudo é escondido, não aparece às claras, a não ser quando há uma manifestação como a aqui relatada.

No trânsito, nas filas de bancos, como há insultos de toda a ordem contra velhos, deficientes, nordestinos, pessoas de cor, brancos chamados de lesmas, etc., através de sussurros e risadinhas.

O nordestino sai do seu nordeste querido não por vontade própria, mas por força das circunstâncias, em busca de emprego e de uma vida melhor. É acossado   pela seca.

Já melhor sorte tem o homem do norte, que tem a riqueza da Amazônia para suprir suas necessidades mínimas, e dificilmente emigra. O Brasil é de todos. Não interessa se a pessoa é do norte, nordeste, sul, sudeste ou centro-oeste. O importante é que seja um bom brasileiro e queira ajudar no progresso do país.

A realidade, porém, é que no Brasil   existe uma gritante discriminação camuflada. Somente através da   educação essa distorção poderá ser corrigida, tirando o país do retrocesso cultural em que mergulhou.