A CORRIDA DO GODÔ

Foi mostrada na televisão uma reportagem sobre uma égua, no Japão, que se tornou famosa pelo fato de nunca haver ganho uma corrida. Mais do que isso: sempre chegou nos últimos lugares.

O que parecia motivo de decepção para muitos se tornou em verdadeiro entusiasmo para outros, que passaram a exaltar a presença da égua  nas disputas.

Assim, num país desenvolvido uma coisa negativa passou a ser vista como positiva. A égua se tornou uma celebridade, sendo admirada e querida por uma multidão incalculável de pessoas.

O treinador da égua passou a receber um elevado número de cartas de pessoas interessadas em conhecer  de perto o animal.  

 A animação passou a ser muito grande e os torcedores, ao invés de apostar no primeiro lugar, passaram a apostar no último lugar.

O treinador disse que o seu grande objetivo é que a égua ocupasse o pódio, pelo menos uma vez; ou seja, chegasse em primeiro lugar. Isto acontecendo, seria aposentada. Ocorre que os torcedores se  manifestaram contra. Queriam  que continuasse  como estava.

Isto me fez recordar que, nos meus tempos de repórter, havia um corredor que sempre chegava nos derradeiros lugares.

Ao final da corrida, ele comparecia à redação para ser entrevistado, desculpando-se de sua baixa colocação. Eram   desculpas e mais desculpas e, concluía, com o refrão: “o importante não é vencer e sim competir”!

Ocorre que o homem se tornou famoso, só que dentro do espírito de gozação. Godô era o seu apelido; seu nome, Godofredo.

Ao contrário da performance extraordinária obtida pelo animal japonês, o Godô era motivo de brincadeiras de mau gosto. Nas corridas, quando o Godô aparecia, quase que parando, as brincadeiras eram muitas.

Nunca vi um gesto de revolta do Godô. Pelo contrário, sorria sempre, satisfeito da vida, com o seu barrigão empinado, consciente de que estava cumprindo com o seu dever e que levava a sério a máxima   por ele citada: “o importante não é vencer e sim competir”.

Godô era uma figura humana admirável. Era um homem simples, operário, possuidor de uma personalidade ímpar.

Foi triste, muito triste mesmo, um dia de competição no qual ele não apareceu. As especulações eram muitas: Godô cansou de tanto ficar para trás, diziam uns; parou, desanimado pelas vaias, diziam outros; está doente, apostavam uns tantos.

Nada disso. Chegou a notícia, através de parentes, de que Godô havia falecido. E, assim, anonimamente, se foi o homem que tantas alegrias dera às maratonas do meu tempo de juventude.