EU ERA FELIZ E NÃO SABIA

As estações de rádio animavam a vida de Manaus antes do advento da televisão.

        Havia uma grande disputa entre a Rádio Baré, a Rádio Difusora do Amazonas e a Rádio Rio Mar, todas procurando atrair o maior número de ouvintes possível.

        Perto do cais do porto de Manaus, a Rádio Baré ocupou um espaço considerável, atraindo multidões com shows aos domingos, realizados por artistas locais e atrações “vindas de fora”, como se dizia.

        Além do teatro armado para os shows, havia o parque de diversões com a Roda Gigante, a Montanha Russa, a Tenda dos Milagres, etc.

        Da montanha, os barcos eram atirados numa enorme piscina.

        Certo dia, eu estava tão embevecido, que caí na piscina. Como o Parque de Diversões era às margens do Rio Negro, correu a notícia de que eu havia caído no rio e morrido.

        Em casa, todo mundo chorava o meu infortúnio. Foi quando lá cheguei, todo molhado, e levei um tremendo safanão de minha mãe, tal o desespero em que se encontrava.

        Foi no Parque de Diversões, que eu assisti a um sanfoneiro esplêndido chamado Hélio Trigueiro, filho de tradicional família amazonense. Era meu colega de turma no antigo Ginásio Amazonense Pedro II.

        Fiquei sabendo das qualidades artísticas do Hélio, através das ondas sonoras da Rádio Baré. E fui vê-lo de perto, ficando extasiado com a magia com que dedilhava sua adorável sanfona.

        Hélio conquistou multidões com seu modo simples de se exibir em público. Era dotado de um excepcional talento musical.

        Quando o Hélio, já casado, resolveu residir no Rio de Janeiro, deixou um vazio imenso no mundo artístico de Manaus, que gostava de suas apresentações e vibrava com os acordes de sua sanfona.

        Tempos depois, a Rádio Difusora do Amazonas resolveu inaugurar a “Festa da Mocidade”, que ficava bem perto de onde eu morava. Tornei-me um aficionado do local festivo, assistindo as apresentações de consagrados artistas amazonenses e dos centros mais badalados do país. As festividades eram realizadas à noite. Somente aos domingos, ocorriam na parte vespertina.

        A “Festa da Mocidade” foi um sucesso. Projetou verdadeiros talentos no campo da música, do canto, da comédia, etc.

        Tempos bons aqueles.

Eu era feliz e não sabia!