PÉS DE BARRO

É incrível como as pessoas mudam de personalidade quando assumem algum cargo de mando. Mas eu não me refiro, evidentemente, a todas as pessoas, posto que algumas têm bastante equilíbrio e discernimento para não se deixarem inebriar pelo exercício do poder.

A verdade é que muitas pessoas lutam, aparentando humildade, para atingir um certo degrau na vida, mas tão logo se veem em certas posições de mando, põem as mangas de fora, desconhecendo velhos colegas e amigos, fazendo o jogo condenável da mentira e da vilania.

O engraçado de tudo isso, é que esses tipos são profundamente rigorosos e maus em relação aos que deles dependem, dessa ou daquela maneira, mas bastante servis para os que estão acima deles. Em relação a estes, são por demais dóceis e subservientes.

A propósito, pessoa de minha família encontrou-se com um amigo que iria assumir um elevado cargo na administração pública de minha terra natal. Na conversa, ele lhe dissera que não se empolgaria de maneira alguma e que seria o mesmo homem de sempre; que continuaria a andar nas ruas sem se encastelar no gabinete de trabalho; que trataria de igual modo aos poderosos e humildes.

Pois bem, logo após assumir o cargo, mudou radicalmente. Cercou-se de uma “troupe” de figuras nefastas da administração pública, e começou a cometer uma série de injustiças.

O poder de fato cega. As pessoas acostumam-se a ser bajuladas, tratadas como se não fossem simples mortais, e passam a sentir necessidade de tudo isso.

Tristes figuras humanas. Não raro são frustradas e solitárias. Quando deixam os cargos, voltam à fingida humildade, implorando pela atenção de antigos amigos que antes “chutaram”.

No meu tempo de estudante universitário conheci um colega que era por demais vaidoso. Ele se julgava muito importante, porque vivia nas altas rodas sociais e tinha um bom cargo numa empresa pública.

Certo dia, um outro colega, brincalhão, dissera em sala de aula que o colega vaidoso era tão importante na empresa, que o chefe só almoçava quando ele chegava. Sem atinar que era brincadeira, ele ficara todo orgulhoso, dando a entender que aquilo era verdade. Foi quando o colega brincalhão disse: “O chefe somente almoça quando você chega, porque você é quem lhe leva a marmita”. Os dois foram às vias de fato.

Em verdade, pessoas assim são verdadeiros ídolos “de pés de barro”. Enganam mais a si próprias do que aos outros.

Ao relatar esse acontecimento a uma pessoa minha conhecida, ela me disse com a sabedoria popular de que é possuidora: “pessoas assim, meu amigo, caem como jenipapo”.

(Cair como jenipapo, é esborrachar-se no chão, no dito popular).