BRASÍLIA: ILHA DA FANTASIA

Branca Amande Cavalcante

Realizei um sonho alimentado há muito tempo: morar com a minha família em Brasília.

Quando ia a Brasília, sentia uma vontade enorme de ficar. Via magia em tudo!…

Consegui o que queria e, com a família, deixei o Rio de Janeiro. Os dois primeiros anos abracei a cidade de corpo e alma; entretanto, esse abraço foi sempre recusado e repudiado, a começar pelo trânsito.

A placa do meu carro, do Rio de Janeiro, causou-me múltiplos problemas. Não entendia tanta agressividade, insultos, etc. Um taxista paraibano aconselhou-me a mudar imediatamente a placa. Teimosamente continuei com a placa do Rio, porque considerava um absurdo a ideia de mudá-la. Ocorre que, ao término do pagamento do IPVA resolvi emplacar o carro em Brasília. Realmente, as perturbações diminuíram substancialmente.

Acontece que, no trato diário com as pessoas, comecei a notar as grosserias, o grosseiro tratamento, a falta de gentileza, etc. As palavras por favor, bom dia, boa tarde, boa noite, não existiam para muitas pessoas em Brasília.

Fui uma enamorada cega. Não queria ver os defeitos da cidade. Por que esse comportamento estranho das pessoas, não todas, evidentemente?

Comecei a fazer uma pesquisa em torno do assunto, porque a cada dia que passava eu me sentia péssima por dentro e por fora. Algumas pessoas me disseram que a agressividade no relacionamento em Brasília, era em face da desconfiança, da frieza e do egocentrismo das pessoas, que consideravam que os que ali chegavam lhes iriam roubar o espaço; outras, afirmavam que as pessoas que moravam em Brasília tinham o complexo de autoridade; enfim, outras tantas, atribuíam o fato ao desagrado de muitos goianos pelo motivo da criação de Brasília ter retirado um pedaço de Goiás.

A realidade é que, até a forma de andar de muitos era diferente e estranha. Não olhavam para os lados, o nariz era empinado, o cenho carregado.

Sentia-me uma alienígena em solo pátrio, uma verdadeira ET. Vivi mal.

Outra coisa que me surpreendeu: a falta de informação. Quase ninguém dava informações. A resposta zangada era sempre a mesma: “não sei”!

Será que o sonho de Dom Bosco foi em vão?      

Como resultado da minha pesquisa cheguei a uma triste conclusão: embora seja uma cidade de migrantes, miscigenada, Brasília não parecia ser Brasil. Era, realmente, para mim uma cidade atípica, estranha, com muitas pessoas carrancudas, mal humoradas, que não sorriam, ou se sorriam o faziam com dificuldade. Seriam pessoas mal amadas, como conjecturava um psiquiatra meu amigo?

O certo é que deixei Brasília sentindo muita compaixão dessas pessoas que demonstravam profunda infelicidade, na forma de ser e de agir.

Adeus Brasília, por sinal uma cidade de linhas arquitetônicas bem bonitas, mas que se me parecia uma verdadeira Ilha da Fantasia.