O CHEIRO DO JEDI

A sabedoria popular diz que a ausência é atrevida. Com efeito: em reunião do Condomínio à qual não compareci, chamaram o meu querido totó de gambá, por pura inveja de um cachorro tão bem tratado.

De início, o Jedi ficou muito insultado. Logo ele, um príncipe, ser comparado a um gambá! Mas, há males que vêm para o bem, pois o Jedi passou a usar perfume francês de primeira linha e, com isto, conseguiu, como maior facilidade, conquistar o seu espaço, com desenvoltura.

A verdade é que um cachorro já entrado nos anos como o Jedi, tornou-se um verdadeiro galã, parecendo até um Paul Neuman.  Jedi ficou lampeiro e saltitante e os seus latidos passaram a ser mais sonoros e cadenciados. Quase que estreava num programa de televisão.

Jedi chegou a receber proposta para fazer um longa-metragem. Cheiroso que nem filho de barbeiro, seria o astro central das filmagens. Chegou a pensar em fazer alongamento, e já se dispunha a entrar numa academia de ginástica.

Da França, enviaram para o Jedi uma extensa lista de perfumes. Consultado, um veterinário amigo optou pelas linhas Cacharel, Calvin Klein, Givenchy e Paco Rabane; outro veterinário, optou pelos perfumes argentinos da linha Gabriella Sabatini. Os americanos também entraram na jogada e ofereceram o famoso Brut. Jedi, que não é um cachorro tolo, disse que aceitava todas as marcas; o que ele quer, em verdade, é sempre andar cheiroso.

Com toda essa onda, Jedi recebeu várias propostas de casamento, mas preferiu continuar solteiro, curtindo a vida, cheirando os postes e levantando a perna. De um momento para outro, viu-se transformado numa celebridade passando a ser o galã dos cachorros.

Com tanto cheiro bom, Jedi passou a ser o dono do pedaço, e não houve mais registros contra ele nas atas de assembleias do Condomínio.

Se houver, ele irá considerar como discriminação, e entrará com ação na Justiça, pedindo ressarcimento por danos morais.

OBSERVAÇÃO: ISTO FOI ESCRITO QUANDO O JEDI ESTAVA VIVO. FAZ ALGUNS ANOS QUE O QUERIDO JEDI MORREU.