O CRIME QUE ABALOU MANAUS

Nos anos cinquenta, um crime abalou Manaus: o chamado crime da Serraria Pereira.

Delmo Pereira, um rapaz muito bem apessoado, de 18 anos, metido com uma “turma da pesada”, resolveu assaltar a serraria pertencente ao seu pai, para pagar dívidas e farrear com amigos de baixa índole.

Tomaram um carro de praça e se dirigiram à Serraria, a mais importante de Manaus, localizada num lugar ermo, na chamada Colônia Oliveira Machado. Em lá chegando, colocaram a nocaute o vigia, com uma pesada pancada na cabeça. No cofre da empresa não havia o dinheiro que esperavam encontrar. Frustrados, forçaram o motorista do taxi a viajar por lugares estranhos até decidirem eliminá-lo, segundo combinaram,  para  ocultar o crime praticado no assalto à Serraria.

O assassinato foi logo descoberto, com a prisão de seus autores. Houve um clamor geral, todos pedindo a pena máxima para o Delmo, o principal envolvido. As emissoras de rádio (à época não havia televisão) falavam no caso a todo instante, clamando por justiça.

Revoltados, os motoristas de praça resolveram se vingar. E, ao ser transferido num carro da polícia, de uma prisão para outra, a viatura policial foi interceptada e dela retiraram  Delmo, e o levaram para um lugar ermo onde o eliminaram, com requintes de barbaridade.

O crime teve repercussão nacional, e grandes criminalistas do Rio de Janeiro foram contratados para auxiliarem na acusação dos réus, dentre os quais Celso Nascimento.

Os motoristas que assassinaram o Delmo foram todos punidos, numa prova de  que não se combate um crime com outro…

Isto ocorreu, há mais de 70 anos.

SAUDADE

 O AMOR QUE FICA

Li, alhures, que um famoso médico oncologista visitava diariamente os seus pacientes para saber como iam os tratamentos ministrados aos mesmos.

Era de uma dedicação profunda, mantendo longas conversas com os doentes para conhecer melhor a personalidade de cada um deles.

Mas havia uma pessoa em especial. Era uma menina muito bonita, de seus 11 anos, mais ou menos, que estava muito doente e bastante debilitada.

O médico lhe dava conselhos alentadores, dizendo que o seu caso era difícil, mas que poderia ter uma melhora e até o desaparecimento da doença.

Ela lhe dizia amiúde: doutor sei que o meu caso não tem cura. Acho que vou morrer e deixar muita saudade em minha querida mãe.

O médico se esforçava para não mostrar fraqueza nesses momentos. Mas ficava muito desconfortável nas visitas que fazia à garota.

Em certa ocasião a garota lhe dissera: tenho muita pena de deixar a minha mãe. Ela é muito boa para mim e eu a amo muito. Sei que ela vai sentir muita saudade de mim.

O médico, então, com lágrimas nos olhos, perguntou-lhe o que ela entendia como saudade.

E a menina respondeu: Doutor, “saudade é o amor que fica”. Foi a   melhor definição   de saudade que ouviu na sua vida.

Poucos dias depois, a criança veio a falecer.


O  GUARDA NOTURN0

Manaus cidade onde nasci tinha, na oportunidade, cerca de 300 mil habitantes.

Era uma cidade boa de se viver, com as obras maravilhosas construídas pelos ingleses, inclusive o belíssimo porto flutuante, além dos bondes elétricos que enfeitavam a cidade, o famoso Teatro Amazonas, e o bem montado sistema de esgoto sanitário, a energia dos lampiões a gás, além do fornecimento de energia elétrica às casas e do abastecimento de água potável às residências. Os ingleses estavam presentes em todos os grandes empreendimentos manauaras.

A questão da segurança era bem conduzida. À noite tínhamos a famosa Guarda Noturna que nos zelava na dormida, e nos deixava sem maiores preocupações de roubo às residências.

No decurso das noites, ouvíamos o longo apito dos Guardas Noturnos anunciando que estavam vigilantes e cumprindo com maestria o seu papel.

Para compensar um pouco os esforços desses abnegados homens da lei, meu pai mandava preparar bules de café e algumas guloseimas e as deixava em lugares predeterminados, para que eles pudessem revigorar um pouco suas horas sem dormir,

Foram tempos muito bons e inesquecíveis nessa vivência maravilhosa, bem distinta dos dias atuais.

A verdade é que a Guarda Noturna funcionava muito bem e a vida, por certo, era muito mais tranquila de se viver, bem diferente, mas muito bem diferente, dos dias atuais.
 

AMELINHA

O MEU ANJO DA GUARDA

Chegamos ao fim do ano. Sinto muita tristeza, pois foi nesse período festivo que faleceu a querida Amelinha, faz várias décadas.

Penso que todos nós na vida contamos sempre com um Anjo da Guarda.

No meu caso, chamava-se carinhosamente de Amelinha, uma espécie de governanta de nossa casa.
Minha mãe, professora normalista, tinha dois expedientes na escola onde lecionava, e foi Diretora, e, meu pai, cumpria dois expedientes no Quartel do Exército (Vigésimo Sétimo Batalhão de Caçadores). Restava, então, para a Amélia, carinhosamente chamada de Amelinha, a vigilância da casa.

Amelinha era uma pessoa maravilhosa. Parece que gostava mais de mim e de minha irmã Maria das Graças, que éramos os últimos dos seis filhos do casal Souza Cavalcante.

Como a Amelinha me defendia com fúria inusitada dos meus colegas de infância, que tinham uma certa prevenção contra mim, por ser eu muito estudioso (modéstia à parte)! Também me defendia das investidas do meu pai.

Amelinha brandia sempre sua espada em minha defesa. Parecia uma fera quando me via em apuros.

Era uma alma maravilhosa. De uma integridade de caráter fora do comum. Era bonita. Não possuía escolaridade, mas muita experiência de vida.

Era voltada inteiramente para a nossa casa, sendo considerada uma verdadeira pessoa da família. Não tinha namorado, posto que sofrera uma desilusão amorosa.

Morreu, ainda, com pouca idade. Mascava muito tabaco de corda.

O falecimento prematuro da Amelinha, até hoje, me causa grande tristeza, principalmente nesses momentos de fim de ano.

FESTIVIDADES DE NATAL

Já estamos nas festividades de Natal e de Fim de Ano e isto traz muitas recordações do nosso tempo de infância, quando acreditávamos piamente no Papai Noel, pois ninguém estragava a nossa fantasia dizendo que o Bom Velhinho não existia. Hoje, até um eminente integrante da Igreja já declarou, para espanto geral, que Papai Noel não existe, desfazendo uma antiga crença do mundo cristão.

Naquele tempo, ficávamos ansiosos pelos presentes e, como não tínhamos casa com chaminé, críamos que os presentes entrassem pela janela, daí porque as deixávamos semiabertas. Na cidade onde morávamos, não havia perigo de ladrão, como ocorre hoje.

Uma sabedoria do nosso pai era a de nos dar presentes úteis ao dia a dia, como sapatos, roupas, etc., o que nos deixava tristes e, às vezes, enraivecidos. Ora aquilo não era presente que se desse nas festas natalinas. Houve mudança de ideia, e passamos, então, a receber os brinquedos da época.

Lembramo-nos bem de um presente especial: um cavalo branco de madeira, sobre rodas, no qual saíamos desfilando pelas calçadas de nossa rua, parecendo um Napoleão Bonaparte mirim.

Aqueles eram tempos felizes. A meninada não tinha a perversidade dos dias de hoje; não havia, também, as disputas ora existentes, cada qual querendo um brinquedo elétrico, ou eletrônico, de última geração.

Mas, no período de festas, não nos lembramos apenas de fatos de nossa infância, mas sim dos meninos de agora, perdidos na cidade grande, desprotegidos, desamparados, sem brinquedos e sem futuro.

Como é triste se pensar num brinquedo que nunca chega! A pessoa passa pela infância, sem nunca ter sido criança.

Fizemos a nossa parte, com algumas doações, embora módicas, para asilos e orfanatos, de maneira anônima, tudo fruto de nossa formação de rotariano, convicto de que somente através da solidariedade e do amor é que conseguiremos ir modificando um pouco o mundo cruel e desumano em que vivemos.

Se não melhorarmos o hoje, o amanhã será tétrico e insuportável de se viver.

Apenas os egoístas se sentirão felizes…